7 de Novembro de 2023 | 4 min de leitura

A morte no cotidiano dos profissionais de UTI

A morte é o fenômeno natural caracterizado pelo fim da vida. Tal fenômeno remete os seres humanos a comportamentos emocionais diferentes, seja no indivíduo que está morrendo ou em seus familiares. Desse modo, não se deve conceituar a morte apenas como um fator biológico, e sim como um processo cultural e social, que está presente no dia a dia.

Cumpre destacar, porém, a multidimensionalidade do processo de morte e de morrer, ao passo que cada sociedade constrói e apresenta a sua própria cultura, hábitos, crenças e valores, o que oferece às pessoas significados diferentes para a morte, bem como recursos distintos para seu enfrentamento. 

Essas dimensões são munidas de diversos sentidos e ritos, e o estudo do tema é essencial na formação dos profissionais de saúde envolvidos nesse processo. A falta de preparo, de reflexões e de diálogos sobre a morte, pode contribuir para que os mesmos encontrem dificuldades na tomada de decisões e no enfrentamento dessas situações.

⚪ Leia também: Como montar uma bandeja de punção arterial e punção venosa profunda

O papel do profissional de enfermagem

A enfermagem tem importante relação com as pessoas hospitalizadas em virtude da responsabilidade na promoção do bem estar e da saúde dos enfermos, que demanda grande parte do tempo ao lado deles. Essa proximidade pode ser tanto positiva quanto negativa em razão da frequente sobrecarga emocional consequente da morte, uma vez que os sentimentos e pensamentos decorrentes de uma precária elaboração do luto proporcionam sofrimento e angústia. 

Assim, este cenário pode produzir uma vivência traumática, impossibilitando a transcendência desta pulsão. As crenças espirituais e pessoais para o enfrentamento do processo de morrer, proporcionam à equipe de enfermagem placidez e empatia ao responder às inquietações das pessoas em condição de fim de vida e de suas famílias, tornando-se fonte de alívio para estas.

O respeito à pessoa em processo de morrer permeia a avaliação e o atendimento de suas necessidades e de seus desejos físicos, sociais, espirituais e emocionais. Dessa forma, auxilia na resolução de tarefas inacabadas, controlando sintomas refratários e superando o tabu relacionado à morte, vinculado ao modelo biomédico e tecnicista hegemônico, que pode priorizar tratamentos curativos e o prolongamento da vida de qualquer maneira. 

Muitas vezes é necessário readequar posturas paternalistas e autoritárias na relação de cuidado, fornecendo informações claras e trabalhando para a ampliação do acesso aos cuidados paliativos.

⚪ Leia também: O que o profissional de saúde precisa saber sobre pré-diabetes e diabetes

Assistência pós-morte

A enfermagem também está ligada diretamente à assistência pós-morte, que envolve diversas etapas dinâmicas desde a preparação do corpo até lidar com familiares. Ao prestar os cuidados na situação de morte, a equipe de enfermagem precisa desligar aparelhos restantes, retirar sondas, ocluir vias áreas e orifícios, fazer curativos necessários e acompanhar o transporte do corpo ao necrotério. 

Essa etapa técnica, entretanto, não pode ser somente designada ao corpo físico. A atuação desses profissionais está intrinsicamente ligada a uma relação embasada na ética e no respeito, tanto ao indivíduo que está em óbito como familiares enlutados. Devem, portanto, demostrar empatia e humanização, evitando agir de forma mecanizada, como muitas vezes acontece. Esse aspecto torna evidente a necessidade de educação permanente para instruir esses profissionais a atuarem de forma correta, visto os sentimentos de dor e sofrimento enfrentados nesse momento.

Cuidar de pessoas em processo de morrer envolve a dignidade do ser humano e depende da atitude de profissionais capazes de respeitar a dor e o sofrimento do próximo, compreendendo a significação desse momento para os envolvidos. Para tanto, esses profissionais necessitam de conhecimento e do desenvolvimento de competências para atuar nesse cenário.

Portanto, em sua formação, é importante que o enfermeiro faça o resgate da empatia, de forma a estar capacitado a dar suporte para as pessoas sob seus cuidados e para seus familiares, além da equipe que supervisiona, de maneira sensível, sem a geração de culpas e temores. Acrescenta-se, ainda, a importância do desenvolvimento das habilidades específicas de comunicação, que viabilizem o vínculo entre os envolvidos.

Referências:

BRÊTAS, J. R. S.; OLIVEIRA, J. R.; YAMAGUTI, L. Reflexões de estudantes de enfermagem sobre morte e o morrer. Rev. Esc. Enferm. USP, v.40, n.4, p.77-83, 2006

HEY, A. P. et al. Percepções sobre a atuação do enfermeiro às pessoas no fim de vida. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 11, 2021.

PRADO, R. T. et al. Comunicação no gerenciamento do cuidado de enfermagem diante do processo de morte e morrer. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 28, 2019.

SANTIAGO, M. E. da C. F.; DE CARVALHO, E. Mendonça; DE LIMA PESSOA, R. O Entendimento dos Estudantes de Enfermagem Acerca do Processo de Morrer e Morte. Ensaios e Ciência C Biológicas Agrárias e da Saúde, v. 23, n. 2, p. 126-131, 2019.

SILVA, A. E. .; RIBEIRO, S. A. .; FERREIRA, G. J. .; SILVA, J. M. D. .; OLIVEIRA, L. A. de .; JESUS, S. B. de .; CARVALHO, T. V. . Perceptions of the nurse: Processo of death and die. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 4, p. e33310414112, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i4.14112. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/14112. Acesso em: 9 jul. 2023.

SILVA, A. G. I. da; CARNEIRO, B. R. F.; CRUZ C. de N. S. da; LUZ, R. S. da; COSTA, G. F.; SILVA, M. R. da; PRAZERES, P. do S. C. dos; GARCEZ, J. C. D.; SARDINHA, D. M. O papel do Enfermeiro Intensivista no processo de morte: uma revisão integrativa da literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 37, p. e1764, 25 nov. 2019.


NP

Natássia Pinho

Enfermeira formada pela UFRJ. Especialista em Saúde Mental. Pós-graduanda em Saúde da Família. Enfermeira RT de Caps Ad.