21 de Novembro de 2023 | 5 min de leitura

Assistência de enfermagem ao portador de epilepsia

O que é epilepsia?

A epilepsia é uma doença definida pela hiperatividade neuronal, com circuitos cerebrais levando a descargas elétricas excessivas e sincrônicas. A doença apresenta-se em forma de descargas interictais eletroencefalográficas, crises epiléticas e até, em casos mais graves, crises prolongadas ou repetidas em intervalos mais curtos, caracterizando o estado de mal epilético. 

Se uma crise convulsiva surge em decorrência de causas agudas, como traumatismo cranioencefálico, alteração hidroeletrolítica ou doença concomitante, não é classificada como epilepsia, e sim como crise convulsiva provocada.

Para ocasionar a geração de crises são necessários: 

  • o desequilíbrio entre excitação e inibição do cérebro, relacionado ao disparo neuronal e descargas excessivas de potencial de ação; 
  • o descontrole do potencial da membrana neuronal e a sincronização das células nervosas. 

O fenômeno epilético pode ser originado em um ponto de um ou ambos os hemisférios cerebrais (crises focais), ou ter origem em uma parte que abrange os dois hemisférios do cérebro (crises generalizadas). As crises focais iniciam em um foco com as descargas neuronais excessivas e podem partir para ambos os hemisférios, evoluindo para crises generalizadas.

De acordo com a classificação da International League Against Epilepsy (ILAE), de 2017, há seis grupos etiológicos para as epilepsias: genético, estrutural, infeccioso, metabólico, imune e desconhecido. 

  • Genético: quando a epilepsia é resultado direto de uma mutação genética definida ou presumida.
  • Estrutural: se refere a anormalidades visíveis em estudos de neuroimagem.
  • Infeccioso: no qual o processo infeccioso resulta em epilepsia e não em crises provocadas na condição de infecção aguda, como meningite e encefalite.
  • Metabólico: quando a epilepsia é o resultado direto de um distúrbio metabólico conhecido ou presumido. 
  • Causas metabólicas: se referem a manifestações ou alterações bioquímicas como erros inatos do metabolismo. 
  • Causa imune: quando há evidência de uma inflamação imunomediada no sistema nervoso central.
  • Causa desconhecida: quando a etiologia não foi definida.

A epilepsia é considerada como uma doença, e não como um transtorno ou desordem cerebral, como era denominada anteriormente. 

A definição de epilepsia passou a ser caracterizada por uma das seguintes condições: 

  • pelo menos duas crises não provocadas (ou duas crises reflexas) ocorrendo em um intervalo superior a 24 horas; 
  • uma crise não provocada (ou uma crise reflexa) e a probabilidade de ocorrência de futuras crises, estimada pelo risco de recorrência geral, que é de pelo menos 60%, depois de duas crises não provocadas ao longo dos próximos dez anos, além de diagnóstico de uma síndrome epiléptica.

A epilepsia é uma das doenças neurológicas que ocorre com maior frequência. Acomete aproximadamente 1% da população mundial e a incidência dessa patologia varia de acordo com idade, sexo, raça, tipo de síndrome epiléptica e condições socioeconômicas. Há uma maior prevalência nos países em desenvolvimento comparada aos países desenvolvidos, em torno de 1,5 a 2,0% de casos a mais. 

Estima-se que no Brasil sejam diagnosticados 340 mil novos casos de epilepsia por ano, havendo 1,8 milhão de pacientes com epilepsia ativa e pelo menos 9 milhões de pessoas que já apresentaram crise epilética alguma vez na vida.

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Epilepsia: assistência de enfermagem

A enfermagem em saúde mental e a neurologia devem estar dedicadas para promover melhor qualidade de vida, uso racional de medicamentos e identificação de sinais e sintomas associados à epilepsia. 

Os enfermeiros se posicionam para melhorar a comunicação com os pacientes. São eles que tem a primeira interação com os pacientes e realizam as avaliações iniciais das condições e necessidades. 

Como o tratamento e diagnóstico são áreas que necessitam de especialização e poucos enfermeiros possuem essa formação, informar-se sobre as diretrizes de enfermagem para o cuidado e educação do paciente com epilepsia são um primeiro passo crítico para expandir o conhecimento sobre diagnóstico e tratamento de epilepsia, autogestão do paciente e aspectos psicossociais do cuidado.

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Convulsão

A manifestação mais conhecida da epilepsia é a convulsão, que é um período clínico anormal resultante de uma exagerada descarga elétrica e repentina no encéfalo. Este termo é usado para definir um sintoma, epilepsia indica a frequência constante dessas crises. 

O diagnóstico clínico é de suma importância, e está baseado na descrição da crise fornecida pelo paciente ou por terceiros que estejam presentes naquele momento, especialmente quando há perda de consciência.

A maioria das convulsões é breve, o que significa menos de cinco minutos de duração. Convulsões com mais de cinco minutos são consideradas prolongadas. 

O estado de mal epilético ocorre quando uma convulsão prolongada dura mais de 30 minutos ou quando duas, ou mais, convulsões ocorrem sequencialmente sem recuperação do estado de consciência entre elas. 

Pode ocorrer lesão cerebral irreversível após 30 minutos de atividade convulsiva.

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Como proceder em caso de convulsão fora do ambiente hospitalar? 

  • Tentar evitar que a vítima caia desamparadamente, cuidando para que a cabeça não sofra traumatismo e procurando deitá-la no chão com cuidado, acomodando-a.
  • Retirar da boca próteses dentárias móveis (pontes, dentaduras), após a crise. 
  • Remover qualquer objeto com que a vítima possa se machucar e afastá-la de locais e ambientes potencialmente perigosos, como por exemplo: escadas, portas de vidro, janelas, fogo, eletricidade, máquinas em funcionamento.
  • Não interferir nos movimentos convulsivos, mas assegurar-se que a vítima não está se machucando.
  • Afrouxar as roupas da vítima no pescoço e cintura.
  • Virar o rosto da vítima para o lado, evitando assim a asfixia por vômitos ou secreções. 
  • Não colocar nenhum objeto rígido entre os dentes da vítima; 
  • Quando passar a convulsão, manter a vítima deitada até que ela tenha plena consciência e autocontrole.
  • Se a pessoa demonstrar vontade de dormir, deve-se ajudar a tornar isso possível.

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O que não fazer?

  • Não levante ou remova a vítima, a menos que ela esteja em perigo imediato.
  • Não use a força para contê-la durante o ataque, pois pode haver fratura de ossos da vítima.
  • Não impeça seus movimentos;.
  • Não coloque nada na boca da vítima, inclusive panos ou até mesmo o seu dedo.

Os cuidados de enfermagem frente a esse distúrbio tornam-se cruciais, uma vez que vai proteger o paciente de lesões, como também prevenir complicações e definir se o episódio descreverá convulsão ou um distúrbio paroxístico, para realização de um tratamento correto. 

A observação clínica e as intervenções e cuidados de enfermagem para ajudar as pessoas com epilepsia passam por várias ópticas, assim como apoiar e orientar seus cuidadores. 

Sendo fundamental no processo de reabilitação psicossocial, a educação em saúde e o estímulo ao autocuidado com intervenções inovadoras e individualizadas é essencial, ajudando a promover a autonomia e diminuindo o estigma das pessoas com epilepsia.

REFERÊNCIAS:

DEGRANDE MOREIRA, G. C. .; FERREIRA FUREGATO, A. R. . Reabilitação psicossocial de pessoas com transtornos mentais e epilepsia. Revista Recien - Revista Científica de Enfermagem, [S. l.], v. 11, n. 36, p. 598–601, 2021.

DINIZ, G. G. D. .; PASSOS, M. A. N. . A CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM PARA PACIENTES PORTADORES DE EPILEPSIA. Revista JRG de Estudos Acadêmicos , Brasil, São Paulo, v. 3, n. 7, p. 418–426, 2020. DOI: 10.5281/zenodo.4270520. 

LIMA, Mariana et al. Protocolo crises convulsivas. 2019.

MOREIRA, Gabriela Carrion Degrande. Assistência de enfermagem à  pessoa com epilepsia e seus cuidadores na perspectiva da saúde mental. 2017. Tese (Doutorado em Enfermagem Psiquiátrica) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2017. doi:10.11606/T.22.2018.tde-28032018-164733


NP

Natássia Pinho

Enfermeira formada pela UFRJ. Especialista em Saúde Mental. Pós-graduanda em Saúde da Família. Enfermeira RT de Caps Ad.