A anemia é uma condição médica frequentemente encontrada na prática pediátrica. A identificação e o tratamento adequados são essenciais para garantir o desenvolvimento saudável da criança.
Neste artigo, discutiremos brevemente os diagnósticos diferenciais de anemia na infância. Confira!
O que é anemia?
A anemia é definida como uma situação na qual a massa eritrocitária é insuficiente para transportar oxigênio para os tecidos.
Esta condição pode ser identificada por uma redução da concentração de hemoglobina, do hematócrito ou da concentração de hemácias por unidade de volume.
A anemia é o final de um processo patológico, que, mais simples ou mais complexo, com maior ou menor gravidade, requer atenção e tratamento. Ou seja, não é apenas uma doença, mas um indicador de outras possíveis condições subjacentes que requerem atenção.
Classificação das anemias
As anemias podem ser classificadas com base na fisiologia e na morfologia. Habitualmente, uma combinação de ambas as abordagens é utilizada para orientar o diagnóstico diferencial inicial.
1. De acordo com a fisiologia:
- Redução da produção: pode ser devido a causas medulares, deficiência de eritropoetina, alteração da maturação citoplasmática e nuclear, ou anemias diseritropoéticas. Cada uma destas causas tem suas próprias características clínicas e laboratoriais que ajudam no diagnóstico diferencial.
- Perdas excessivas: podem ser agudas ou crônicas. As perdas agudas são frequentemente devido a hemorragias, enquanto as crônicas podem ser devido a condições como úlceras ou parasitoses intestinais.
- Aumento da destruição dos glóbulos vermelhos: pode ser devido a anemias hemolíticas congênitas ou causas adquiridas, como a anemia hemolítica autoimune.
2. De acordo com a morfologia:
- Microcíticas: caracterizadas por um VCM (Volume Corpuscular Médio) abaixo do normal para o sexo e a idade. Além da anemia ferropriva, outras causas incluem talassemias e anemia de doença crônica.
- Macrocíticas: o VCM é acima do valor esperado para o sexo e a idade. Causas comuns incluem deficiências de vitamina B12 e ácido fólico.
- Normocíticas: o VCM está dentro dos valores de normalidade. Causas comuns incluem anemia aplástica e anemia secundária a doenças crônicas.
Diagnóstico de anemia
O diagnóstico diferencial das anemias é amplo e requer uma abordagem sistemática. Uma história clínica completa e exames iniciais de triagem são essenciais para direcionar o raciocínio clínico para o diagnóstico.
- História de saúde: perguntar sobre episódios anteriores de anemia, triagem neontal (teste do pezinho), transfusões sanguíneas, medicamentos em uso e doenças crônicas.
- História familiar: investigar a existência de doenças hematológicas na família, como talassemias ou anemia falciforme.
- Dieta: avaliar a ingestão de ferro, vitamina B12 e ácido fólico.
- Sintomas associados: perguntar sobre fadiga, palidez, icterícia, alterações urinárias e sintomas gastrointestinais.
- História de sangramentos: investigar episódios de sangramentos, menstruação abundante, sangramentos nasais frequentes ou hematomas sem causa aparente.
Exame Físico
- Inspeção: observar a presença de palidez cutâneo-mucosa, icterícia ou petéquias.
- Ausculta cardíaca: avaliar a presença de sopros ou ritmos cardíacos anormais.
- Exame abdominal: Palpar o baço e o fígado para avaliar hepatomegalia ou esplenomegalia.
- Avaliação neurológica: em casos de suspeita de deficiência de vitamina B12, avaliar a presença de neuropatias ou alterações de reflexos.
Exames Laboratoriais Iniciais
- Hemograma completo: para avaliar a contagem de hemácias, hemoglobina, hematócrito e índices eritrocitários.
- Contagem de reticulócitos: ajuda a determinar se a medula óssea está produzindo hemácias adequadamente.
- Esferocitose no esfregaço sanguíneo: pode indicar anemia hemolítica.
- Dosagem de ferro e ferritina sérica: para avaliar as reservas de ferro.
- Dosagem de vitamina B12 e ácido fólico: em casos de anemia macrocítica.
- Pesquisa de Hhmoglobina fetal: útil em suspeitas de talassemias.
- Teste de coombs direto e indireto: em suspeitas de anemia hemolítica autoimune.
Tratamento da anemia
O tratamento da anemia depende da causa subjacente e da gravidade da condição. Algumas abordagens gerais incluem:
- Suplementação de ferro: para anemias causadas por deficiência de ferro.
- Transfusão de sangue: em casos de anemia grave ou quando há risco de complicações.
- Terapia com eritropoetina: para estimular a produção de glóbulos vermelhos em certas anemias.
- Tratamento imunossupressor: para anemias autoimunes ou anemia aplástica.
- Terapia de reposição de vitaminas: como vitamina B12 ou ácido fólico para anemias macrocíticas.
Exemplos Clínicos
- Anemia Microcítica: uma criança de 3 anos apresenta palidez e fadiga. O hemograma revela VCM baixo. A avaliação das reservas de ferro mostra deficiência. Embora a anemia ferropriva seja uma causa comum, é essencial considerar outras causas, como talassemias ou anemia de doença crônica.
- Anemia Macrocítica: uma criança de 5 anos com histórico de insegurança alimentar importante apresenta VCM elevado no hemograma. A deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico pode ser uma causa potencial. É importante investigar a dieta da criança e realizar exames específicos para confirmar a deficiência.
- Anemia Normocítica: uma criança de 7 anos apresenta sintomas de fadiga e palidez. O hemograma mostra VCM dentro da normalidade, mas a contagem de reticulócitos está elevada, sugerindo uma possível anemia hemolítica. Testes adicionais, como a pesquisa de Coombs, podem ajudar a confirmar o diagnóstico.
Conclusão
O diagnóstico preciso da anemia e a identificação de sua causa subjacente são fundamentais para garantir o tratamento adequado e o bem-estar da criança.
Ao considerar o diagnóstico diferencial, os profissionais de saúde podem garantir que a criança receba o cuidado mais apropriado para sua condição. É essencial que os médicos estejam atualizados sobre as várias causas de anemia na infância e as abordagens diagnósticas e terapêuticas mais recentes.
A investigação inicial deve ser feita pelo pediatra geral ou médico de família e comunidade, que devem seguir as causas mais frequentes, em especial a anemia ferropriva.
As anemias carenciais sempre se beneficiam do seguimento multidisciplinar, com a nutrição e, eventualmente, o serviço social. Os demais casos devem ser encaminhados ao hematologista pediátrico, para investigação completa e seguimento ou encaminhamento adequados.
Referências
- LOGGETTO, Sandra Regina; BRAGA, Josefina Aparecida Pellegrini; TONE, Luiz Gonzaga. Hematologia e Hemoterapia Pediátrica. Sociedade de Pediatria de São Paulo - SPSP. Atheneu, 2014.
- CARNEIRO, Jorge David Aivazoglou. Hematologia Pediátrica. Manole, 2012
- PedsCases. (2023). About Pedscases. https://www.pedscases.com/about-pedscases