23 de Agosto de 2023 | 6 min de leitura

Os 4 procedimentos de Unidade de Terapia Intensiva que todo enfermeiro precisa conhecer

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um setor hospitalar no qual são realizados cuidados complexos e intensivos por equipes multidisciplinares no tratamento e reabilitação de pacientes em estado grave ou potencialmente grave (de risco).

  1. Paciente Grave – paciente que apresenta instabilidade de um ou mais sistemas orgânicos, com risco de morte.
  2. Paciente de Risco – paciente que possui alguma condição potencialmente determinante de instabilidade.

A unidade é comandada por profissionais qualificados que, com auxílio dos recursos tecnológicos, oferecem o suporte e o tratamento para que o paciente tenha possibilidade de se recuperar. O profissional especializado nesta área de cuidado chama-se intensivista.

A UTI oferece ao paciente uma equipe composta por profissionais de diferentes áreas da saúde, trabalhando em conjunto para otimizar o tratamento e sua recuperação. Além disso, conta com suporte técnico exclusivo para monitorar continuamente a evolução do quadro clínico do paciente e também para tratar de forma imediata qualquer tipo de complicação.

A UTI deve dispor, no mínimo, dos seguintes serviços, 24 horas por dia: 

  1. a) Laboratório de análises clínicas;
  2. b) Agência transfusional/banco de sangue;
  3. c) Diálise peritoneal;
  4. d) Eletrocardiografia;
  5. e) Serviço de Imagem, com capacidade para realização de exames à beira do leito;
  6. f) Além de ser assistida por uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).

Procedimentos comuns

O cuidado a pacientes críticos envolve alguns procedimentos invasivos que devem ser bem indicados, realizados com correta técnica de assepsia e antissepsia, avaliados ao final para serem afastadas as possibilidades de complicações e retirados assim que possível para evitar infecções.

Muitos procedimentos, dos mais simples aos mais invasivos, podem ser realizados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como acessos periféricos; passagens de sondas nasogástricas, nasoenterais e vesicais; ateualmente, sendo descritos até mesmo procedimentos cirúrgicos, como: biópsias pulmonares por vídeo, curativos intra-abdominais, videolaparoscopias entre outros.

No entanto, os procedimentos invasivos mais comuns realizados em UTIs são os acessos venosos profundos e os acessos às vias aéreas. Os procedimentos mais complexos exigem profissionais mais experientes e/ou especialistas para a sua realização.

Um dos recursos que auxilia os procedimentos na UTI é a ultrassonografia á beira leito, principalmente no acesso venoso profundo através da veia jugular, que além da visualização da anatomia, pode acompanhar o procedimento.

Acesso vesoso central

O tempo prolongado de internação, a terapia intravenosa de longa duração, os medicamentos vesicantes, a nutrição parenteral, a ausência de acesso periférico de boa qualidade são alguns dos motivos pelo qual o paciente crítico pode precisar de um acesso venoso central, feito pelo profissional médico. 

Locais de inserção do acesso central:

  • Veia jugular interna;
  • Veia subclávia;
  • Veia femoral;
  • Veia antecubital.

O cuidado à estes acessos deve ser rigoroso, principalmente no controle de infecção. O curativo deve ser feito utilizando técnicas assépticas, usar luvas para manusear o cateter, observar presença de sinais flogísticos (exsudato, hiperemia, rubor, calor), observar indicativos de infecção da corrente sanguínea como: tremores, sudorese, confusão mental, etc, complicações locais (hiperemia, flebite, infiltração, edema, queixas álgicas, etc), trocar o equipo a cada 72 horas, heparinizar via do cateter que não estiver em uso.

Gasometria arterial 

A gasometria arterial é um exame feito com a punção da artéria radial, perto do punho, mas também pode ser coletada pela artéria braquial ou femoral. Através das amostras de sangue coletadas nestas artérias, pode-se medir a concentração de oxigênio e gás carbônico circulante. É uma forma de avaliar se a ventilação a que o paciente está sendo submetido está proporcionando uma boa oxigenação e também serve para monitorar a acidez do sangue.

A punção é feita pelo médico ou enfermeiro e é similar a uma punção venosa, mas devem-se tomar alguns cuidados especiais como: para localizar a artéria deve-se primeiro sentir o pulso; como é uma artéria há uma maior facilidade para formação de hematomas e sangramentos, então depois de puncionada, deve-se fazer um curativo compressivo. 

Os resultados anormais podem indicar doenças renais, respiratórias ou metabólicas. Os resultados também podem estar alterados nos traumatismos, particularmente em lesões cefálicas ou cervicais que possam afetar a respiração.

Intubação orotraqueal

A intubação orotraqueal (IOT) é um procedimento médico, baseado na passagem de um tubo na orofaringe de um indivíduo, com o auxílio de um laringoscópico, para que o paciente receba ventilação adequada através de respirador mecânico.

A intubação endotraqueal é o procedimento para a obtenção de via aérea artificial, frequentemente utilizado para garantir a ventilação. É indicada quando não há perviedade ou para proteção das vias respiratórias superiores, para higiene pulmonar e terapia com pressão positiva em situações de insuficiência respiratória aguda com necessidade de ventilação mecânica invasiva.

O enfermeiro é o profissional que auxilia o médico durante o procedimento, juntamente com o fisioterapeuta e um técnico de enfermagem. Após o procedimento, é necessário que se verifique a correta posição do tubo, garantindo a efetividade da respiração.

O tubo deve ser fixado, um RX de tórax pós IOT deve ser realizado na busca de complicações e a ventilação mecânica deve ser ajustada. Medicamentos usados para SRI são normalmente de curta ação, assim deve-se assegurar sedação de longo prazo, analgesia e eventualmente paralisia se necessário. Em alguns casos o paciente pode ser mantido sem sedação, cada caso deve ser discutido individualmente.

É importante que a enfermagem assegure a correta fixação do tubo e que tenha cuidado ao movimentar o paciente durante os outros procedimentos de rotina para que não haja extubação acidental.

Cateterismo vesical de demora

É um procedimento estéril que consiste na introdução de uma sonda até a bexiga, através da uretra, com a finalidade de facilitar a drenagem da urina ou instilar medicação ou líquido, com tempo de permanência longo (pode variar de dias a meses), determinado pelo médico.

Entre as indicações, as mais comuns são: retenção urinária aguda; monitorização de débito urinário em pacientes graves; monitorização intra e pós operatório: cirurgias de longa duração; cirurgias em que o paciente necessita receber grande infusão de volume, dentre outras; hematúria com coágulos; incontinência urinária em pacientes que falham na terapia comportamental; pacientes com bexiga neurogênica; pacientes com feridas perineais e sacrais abertas, afim de ajudar na cicatrização; melhorar o conforto em cuidados de fim de vida.

Cuidados com a sonda vesical de demora:

  1. 1 – Observar o aspecto e a quantidade de urina drenada;
  2. 2 – Manter uma boa fixação da sonda, intercalando as fixações a cada troca;
  3. 3 – Realizar troca da fixação a cada 24 horas ou quando for necessário;
  4. 4 – Manter a bolsa coletora abaixo do nível da bexiga, para que a drenagem seja feita de forma adequada;
  5. 5 – Não encostar a bolsa coletora no chão, isso causa contaminação;
  6. 6 – Se necessário manter a bolsa acima da altura da bexiga, deve-se manter o clamp fechado, que acima de tudo impede o refluxo urinário;
  7. 7 – Esvaziar a sonda sempre que estiver cheia ou a cada 6 horas em caso de controle hídrico;
  8. 8 – Manter o clamp fechado por 30 minutos antes de realizar coleta de urina para exames;
  9. 9 – Realizar assepsia com álcool a 70% no local apropriado para punção do sistema fechado de sondagem, no silicone para coleta de urina;
  10. 10 – Realizar a punção com agulha 25×7 e seringa de 10 ml no silicone para coleta de urina.

Como dito anteriormente, os procedimentos dentro de uma unidade de terapia intensiva são inúmeros. Nesse texto, foram citados os que acontecem com maior recorrência. É importante que o enfermeiro esteja familiarizado com tais procedimentos, pois quando não é quem faz o procedimento, é quem auxilia e monta o material necessário para o outro profissional. Sem contar que é quem normalmente visualiza alguma alteração quando há.

Referências:

BRASÍLIA, Distrito Federal. Portaria GM/MS 1.071 de 04 de julho de 2005. Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico. Disponível em http://www.sotiro.pvh.googlepages.com. Acessado em: 1/09/08.

CINTRA, E. A., et al. Assistência de Enfermagem ao paciente crítico. São Paulo: Atheneu, 2000.

NOGUEIRA, E., et al. Manual de cuidados de enfermagem em procedimentos de intensivismo. – Porto Alegre : Ed. da UFCSPA, 2020.

PEREIRA, Pedro Samuel Lima et al. Repercussões fisiológicas a partir dos cuidados de enfermagem ao paciente em unidade de terapia intensiva. Revista Prevenção de Infecção e Saúde, v. 1, n. 3, p. 55-66, 2015.

SOUSA, Fernanda Coura et al. Avaliação dos cuidados de enfermagem com o cateter venoso central em uma unidade de terapia intensiva adulto e pediátrica. Revista de Administração em Saúde, v. 18, n. 70, 2018.


NP

Natássia Pinho

Enfermeira formada pela UFRJ. Especialista em Saúde Mental. Pós-graduanda em Saúde da Família. Enfermeira RT de Caps Ad.