As primeiras faculdades de medicina no Brasil foram fundadas por Dom João VI logo após a chegada da realeza portuguesa no país, em 1808. Inicialmente, os profissionais da área atendiam todos os públicos, mas com o tempo, começaram a se especializar como forma de lidar com a grande concorrência na profissão. O ensino da pediatria, por exemplo, foi regulamentado apenas em 1882, levando à redução do alto índice de mortalidade infantil.
A mudança possibilitou a construção das primeiras maternidades e consultórios populares. A partir daí, a especialidade ganhou cada vez mais espaço na vida dos brasileiros, especialmente graças ao trabalho de profissionais dedicados a aperfeiçoar o cuidado com os pacientes. Conheça alguns que marcaram a história nacional e inspiram pediatras até hoje.
Carlos Moncorvo: pai da pediatria brasileira
A história da pediatria no Brasil se mistura com a trajetória de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo. Nascido no Rio de Janeiro em 1846, se tornou um dos médicos mais influentes e respeitados da época.
O profissional frequentou os principais centros de atendimento em saúde europeus, como a Escola Prática da Faculdade de Medicina de Paris, em que fez estágio e se tornou membro da Academia de Medicina da capital francesa. Foi lá que começou a estudar as doenças que atingiam o público pediátrico, seguindo a tendência de especialização dos médicos da região.
De volta ao Brasil, Moncorvo realizou pesquisas e escreveu artigos sobre pediatria para revistas internacionais. Aliás, é uma publicação sua sobre o uso de cloreto de potássio no tratamento de diarreia em crianças que marcou o início da especialidade no país.
Em 1882, junto a outros médicos, o pediatra inaugurou a Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Lá, Moncorvo criou o primeiro curso regular de pediatria do Brasil, ministrando as aulas em sua própria casa. A iniciativa gerou polêmica entre os profissionais da época, já que muitos eram contra as especializações. Mais tarde, a entidade foi considerada o maior difusor da área no país, contribuindo para a adesão da comunidade médica e o reconhecimento da especialidade. É por tal feito que o profissional é conhecido como o “pai da pediatria brasileira”.
Antônio Fernandes Figueira
Entre os alunos de Carlos Moncorvo na Policlínica Geral estava Antônio Fernandes Figueira, que em 1910 fundou a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A instituição foi criada para ser um centro de estudos da especialidade e acabou se tornando a principal referência da área no Brasil.
A carreira do médico também foi marcada pela publicação de obras sobre a especialidade, como “Diagnóstico das cardiopatias infantis” em 1895, que rendeu um Prêmio Visconde de Alvarenga, da Academia Nacional de Medicina, e a publicação na revista médica inglesa The Lancet. Cinco anos depois, Figueira publicou “Elementos de Semiologia Infantil”, considerado por pediatras europeus da época o melhor livro do gênero. A obra projetou o nome do médico mundialmente.
Maria Helena de Moura Leite
Nascida em 1915, Maria Helena de Moura Leite driblou desafios financeiros para se formar em medicina, já que ainda adolescente começou a trabalhar para ajudar no sustento da família, constituída por seis irmãos. Foi por isso que se graduou apenas em 1952, aos 37 anos.
A trajetória profissional incluiu passagens como clínica pediátrica e chefe do setor na Instituto Materno-Infantil de Pernambuco e como docente na Universidade Federal de Pernambuco e no Instituto de Puericultura do Nordeste. A pernambucana também deu aulas em cursos sobre ginecologia, radiologia clínica, cirurgia de ambulatório, histologia, clínica médica e anestesiologia, além de ter palestrado em eventos científicos sobre pediatria e nefrologia em Lisboa, no Rio de Janeiro e no México. As contribuições para a profissão a tornaram patrona da SBP.
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O surgimento de áreas de atuação na pediatria
Com a afirmação da pediatria como uma especialidade essencial na área da saúde, foram surgindo subespecialidades dentro do ramo. A primeira delas foi a neonatologia, motivada a combater a alta mortalidade de crianças nos primeiros 28 dias de vida. A subespecialidade foi estabelecida no início do século 20, após a criação das primeiras incubadoras voltadas a oferecer maior assistência aos recém-nascidos.
Já a terapia intensiva pediátrica surgiu na década de 1970 para ajudar no tratamento de doenças epidêmicas que atingiam as crianças, como sarampo, poliomielite, difteria e doença meningocócica, resultantes da falta de cobertura vacinal. Foi em São Paulo que foi organizada a primeira Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Brasil (UTIP), em 1974.
Outras áreas de atuação em pediatria ainda dão seus primeiros passos no Brasil. É o caso da emergência pediátrica, reconhecida apenas em 2015. Antes, desde 2002, a área era exclusiva da clínica médica.