Crianças pertencentes a famílias que sofrem violência doméstica têm três vezes mais chances de adoecer. Além disso, mais da metade dessas crianças costuma repetir ao menos um ano na escola, chegando a abandonar os estudos, em média, aos 9 anos de idade.
Nesse contexto, a Saúde da Família é um plano criado pelo Ministério da Saúde para promover a aproximação do médico com a família, participando de maneira mais efetiva no cotidiano dos lares, na busca pela melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Em 1999, A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou uma série de valores, ações, tradições e comportamentos de pessoas, grupos e nações baseados no respeito pleno à vida e à promoção dos direitos humanos como cultura de paz. E a prática de não-violência por meio da educação e do diálogo é uma das matrizes que mais se destacam entre esses valores.
A violência, como se sabe, afeta todos os âmbitos da vida social e mental da pessoa, podendo gerar complicações no bem-estar e na saúde. Um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que cerca de 1 bilhão de crianças e jovens na faixa etária de 2 a 17 anos já passaram por violência psicológica, física ou sexual. Os dados são de 2015.
Como agir e o que fazer perante evidências de agressão
Conforme o Manual de Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, o papel do médico é de atentar para sinais físicos e emocionais e, sempre que possível, encaminhar a outros serviços, como Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude. Além disso, é sua função notificar as autoridades competentes para que o quadro de mitigação da violência possa ser mais efetivo e eficiente.
Muitas vezes, o setor de saúde representa uma saída para as vítimas. Isso acontece, por exemplo, quando ocorre uma lesão que obriga os cuidadores levarem a criança até um hospital. Os médicos, primordiais nessa etapa por terem contato direto com o paciente, poderão buscar no exame físico sinais de negligência e marcas de violência física ou sexual.
Obviamente, os resultados podem não ser absolutos, uma vez que há outros tipos de violência difíceis de serem detectadas numa anamnese.
Assim que se levantar suspeita de que uma criança sofre violência, é necessário um ofício multiprofissional, envolvendo enfermeiros, médicos, psicólogos e assistentes sociais. Cada profissional deve fazer um relatório e enviá-lo ao Conselho Tutelar e à Vara da Infância e Juventude. O documento precisa ser enviado em nome da instituição que alega suspeitas de violência, para que todos os profissionais não se exponham a ameaças.
Como reconhecer sinais de violência em crianças e jovens
Em 2018, foi lançada a 2ª edição do Manual de Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, realizado em parceria pela Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Segundo a publicação, há três tipos principais de violências que crianças e adolescentes costumam sofrer:
- Intrafamiliar: ocorre dentro de casa, em geral, onde a criança e adolescente vivem. É comum que os agressores sejam pessoas que deveriam apoiar e proteger esse menor. Esse tipo de violência é mais difícil de descobrir por conta do medo de mais agressões e de impunidade;
- Extrafamiliar: acontece quando as agressões são fora das moradias e do âmbito familiar. Esse tipo é mais comum no período infância e juventude, por estranhos ou indivíduos que detêm a guarda temporária;
- Autoagressão: quando se busca, de forma pertinente, inconsequente e paulatina atividades de risco e maneiras de machucar a si mesmo, até o suicídio – grau máximo.
A violência mais frequente é a negligência. Os sintomas podem ser físicos, quando, por exemplo, a criança não é bem alimentada e apresenta sinais de desnutrição; emocionais, em que não há suporte mental nem afeto necessário para seu bem-estar pleno; e educacional, quando a família impossibilita o desenvolvimento intelectual, impedindo de ir à escola.
Os sinais mais evidentes costumam ser mesmo físicos, como hematomas, queimaduras e fraturas. Mas é importante estar em alerta para indícios como ansiedade, depressão, tiques ou manias, pois também fazem parte do quadro de consequências de violência psicológicas.
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