25 de Janeiro de 2020 | 3 min de leitura

Como aplicar terapias cognitivo-comportamentais no tratamento para transtornos de personalidade

Doenças mentais ainda são um tabu na sociedade. O preconceito em torno delas em geral compromete o conhecimento e o acesso aos profissionais da área, como no tratamento para transtornos de personalidade. Familiares, amigos e principalmente pacientes acabam sofrendo com sintomas que tendem a persistir por toda a vida.

“Os transtornos de personalidade têm em comum um padrão imutável e constante de traços de comportamento mal adaptados, que envolvem a cognição e a afetividade”, explica o psiquiatra Antônio Nardi, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Isso se traduz em problemas no relacionamento interpessoal e no controle dos impulsos.”

Desvios de personalidade são classificados como paranóide, esquizóide, antissocial, borderline, narcisista, entre outros. Não há cura para os distúrbios, mas medicações receitadas com prudência e terapias cognitivo-comportamentais (TCC) podem garantir a melhora na saúde mental e aumentar a qualidade de vida aos pacientes.

De acordo com Nardi, o diagnóstico é complexo porque as pessoas não reconhecem a doença e, consequentemente, não aceitam o tratamento médico. Por isso, a procura por ajuda profissional deve partir de amigos ou parentes após casos de comorbidade, depressão e dependência de químicos.

“O que na realidade funciona é a adesão ao tratamento, a relação terapeuta-paciente, pois o paciente ter o terapeuta como uma referência que pode ajudar”, completa. Uma vez estabelecida a confiança no tratamento, as terapias cognitivo-comportamentais apresentam uma série de alternativas aos portadores de transtornos de personalidade.

Três ondas

Na história da psicologia, os modelos cognitivos-comportamentais são classificados por três “ondas” de novos conhecimentos, que foram sucessivamente incorporados aos modelos anteriores. O objetivo é aprimorar o entendimento do fundamento psicológico humano e aumentar a eficácia dos tratamentos.

Hoje, a disciplina trabalha até a terceira dessas “ondas”, da qual se originam diversos outros tipos de terapias cognitivo-comportamentais. Segundo os pressupostos da terceira onda, a cognição é passível de ser monitorada e alterada. Ou seja, modificando as estruturas cognitivas é possível alterar emoções e comportamentos subjacentes.

Confira, abaixo, as principais contribuições de cada onda na evolução do tratamento de transtornos de personalidade:

  • Primeira onda: implementou uma tradição cientificista para a psicologia. Seus estudos foram o gatilho para a moderna psicoterapia baseada em evidências.
  • Segunda onda: levou a terapia cognitivo-comportamental ao posto de principal abordagem psicoterápica do final do século 20. Seus expoentes sistematizaram a psicoterapia, criando uma abordagem em que tratamento e consulta apresentam uma estrutura que visa a eficiência e a otimização do tempo.
  • Terceira onda: como a primeira e a segunda onda não demonstraram resultados significativos em quadros clínicos de transtorno de personalidade, a nova abordagem integrou técnicas para apresentar uma intervenção mais completa e abrangente. É definida, portanto, por modelos mais integrativos e conceituais.

Se você se interessa pelo assunto e quer ficar por dentro de tudo que envolve essa área da psicologia, conheça a Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental desenvolvida pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).

Tratamento para transtornos de personalidade

O que diferencia a maioria das terapias da terceira onda é a utilização de ferramentas complementares à clínica – como práticas meditacionais – na busca pela saúde mental. O exemplo mais comum é o mindfulness.

Confira a indicação de tratamento de oito terapias cognitivo-comportamentais de referência:

  • Comportamental dialética: indicada para casos graves de transtorno de personalidade borderline.
  • Aceitação e compromisso: principal indicação clínica para transtornos depressivos e de ansiedade, bem como para casos sem uma hipótese diagnóstica específica.
  • Focada na compaixão: utilizada no tratamento de transtornos depressivos, de ansiedade, psicóticos e de personalidade.
  • Terapia do esquema: adequada para transtornos de personalidade e casos sem hipótese diagnóstica específica.
  • Metacognitiva: indicada para TAG (transtorno de ansiedade generalizada), TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) e transtornos depressivos.
  • Modificação do viés atencional: indicada para transtornos relacionados ao uso de substâncias, de ansiedade e ao trauma.
  • Terapia do esquema emocional: indicada para tratamentos com foco na regulação emocional, especialmente em transtornos de ansiedade e depressivos.
  • Cognitiva processual: é a principal indicação para transtornos de ansiedade, depressivos, da personalidade, em especial no trabalho com as crenças centrais.




Redação Secad

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